Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/ Agência Brasil
O circo de Fux
Luiz Fux não escreveu apenas mais um voto. Ele assinou um capítulo definitivo da crise institucional brasileira. Ao sustentar que Jair Bolsonaro não teria conhecimento do plano golpista — colocando Mauro Cid e Braga Neto como os “verdadeiros líderes” da trama — Fux abandonou a toga de jurista para vestir, com gosto duvidoso, a capa de advogado de defesa improvisado.
Engraçado, não? Mauro Cid, ajudante de ordens, de repente se transforma em generalíssimo do golpe do século. Um golpe tão “surpresa” que até parece festa de aniversário mal organizada: o mordomo organiza tudo, apaga as luzes, prepara a trilha sonora e, no final, o chefe — coitadinho — só aparece para soprar a vela da ditadura.
Diálogo irônico:
— Parabéns, Bolsonaro! Você é o novo ditador do Brasil!
— Nossa, não sabia disso. Foi o Mauro Cid quem comprou o bolo, chamou os amigos e até ensaiou o hino. Eu só passei por ali na hora errada.
Essa narrativa é tão absurda que faria rir, se não fosse trágica. Fux praticamente disse ao país: “O dono da casa estava tirando uma soneca, foi o mordomo quem tramou tudo.”
Contradições que saltam aos olhos
O espetáculo se torna ainda mais surreal quando lembramos das contradições da postura do ministro. Ele condenou os vândalos bolsonaristas por organização criminosa — ótimo, prender os peixes pequenos está certo. Mas na hora de mirar os tubarões, os chefões da conspiração? Não existe crime. Ou será que o STF só serve para punir os subordinados, enquanto os líderes se tornam figuras intocáveis?
E aqui entra a ironia que fere: não foi o próprio Fux que votou para que o STF julgasse o caso? Na teoria, sim, a Corte poderia ir até o topo da pirâmide e responsabilizar os líderes. Na prática, o voto de Fux dá a entender que há um limite invisível: o chefe da organização política está acima da justiça, enquanto quem executou, organizou ou apenas participou paga o preço.
“Condenou o mordomo e não o dono da casa”: metáfora que arde
A metáfora é dura — e proposital. Fux transformou a justiça em teatro de sombras: pune acessórios, protege o núcleo do poder político e cria um novo tipo de impunidade seletiva. Bolsonaro, que inflamava palanques, convocava generais e encenava sua influência sobre os atos de 2022 e 2023, agora aparece como ingênuo, quase alheio ao próprio golpe que arquitetou.
Se dependesse do voto de Fux, o ex-presidente poderia até lançar uma autobiografia: “Como virei ditador sem saber.” Um manual de inocência estratégica, escrito sob a tutela do STF que ele próprio autorizou a julgar o caso.
Ironia elevada ao cubo
Enquanto isso, Fux hesita, revisa notas, pondera, cria suspense e finalmente solta um voto que desafia qualquer lógica jurídica. Cada argumento soa como desculpa infantil: “Não sabia, mas fiz por amor à Constituição.”
E o detalhe internacional não poderia faltar: as sanções americanas, baseadas na Lei Magnitsky Global, pairam sobre o STF como sombra constante. O ministro que deveria ser pilar de firmeza parece mais preocupado em não ser barrado no aeroporto de Miami do que em sustentar o próprio juízo.
A hesitação se torna personagem principal. Cada minuto de indecisão é um convite à ironia: o jurista que deveria ser símbolo de racionalidade e coragem transforma-se em refém do próprio medo, enquanto o país assiste a um espetáculo tragicômico. A toga, outrora símbolo de autoridade, agora parece apenas manto de insegurança.
O retrato do vacilo
Luiz Fux redefine o conceito de vacilação: medo confundido com prudência, covardia com cautela, hesitação com técnica. É um espetáculo desconcertante, tragicômico e venenoso — e a única coisa que resta ao povo é rir, chorar ou suspirar diante da milésima hesitação de um homem que se tornou personagem maior que o próprio tribunal que deveria liderar.
E agora? Carmen Lúcia, Cristiano Zanin, Moraes, Dino e o futuro de Fux
Enquanto o circo de Fux segue, surgem perguntas inevitáveis: o que esperar de Carmen Lúcia e Cristiano Zanin? Ela, conhecida por sua firmeza e prudência, provavelmente será o contraponto necessário, cobrando coerência e aplicando a lei sem teatro. Cristiano Zanin, advogado experiente e crítico da parcialidade, pode transformar cada passo do STF em questão de análise técnica e cobrança moral, expondo ainda mais a fragilidade do voto de Fux.
Não podemos esquecer de Alexandre de Moraes e Flávio Dino. Moraes, que não se deixa impressionar por encenações, atua com rigor e consistência, mantendo o foco no mérito jurídico e na responsabilização dos líderes da conspiração. Dino, por sua vez, reforça a dimensão política e ética da análise, pressionando por responsabilização integral e não seletiva — uma voz firme que contrasta com a hesitação e a teatralidade de Fux.
Quanto a Fux, se as alegações de Marcos do Val — sobre encontros secretos e orientação política para evitar sanções internacionais — forem verdadeiras, o cenário é explosivo. O ministro não apenas perderia credibilidade perante a opinião pública, mas também poderia enfrentar investigações sobre conduta imprópria, influência externa e violação do decoro judicial. Em outras palavras: o mesmo homem que tentou proteger o chefe da casa enquanto punia os subordinados poderia se tornar o próximo alvo do próprio tribunal e da história, enquanto Moraes, Dino, Carmen Lúcia e Zanin reforçam o contraste entre coragem, técnica e compromisso com a lei.
Conclusão de impacto
O voto de Fux não é apenas uma decisão jurídica: é um espetáculo de covardia, indecisão e teatro político. Enquanto ele se esconde atrás de desculpas e topetes desafiadores da gravidade, o país observa incrédulo. O Supremo, que deveria ser fortaleza da lei, mostra-se palco do medo. A covardia de Fux, por mais absurda que pareça, teve um efeito inesperado: derrubou, de uma vez por todas, a tese da extrema direita sobre a existência de uma “ditadura da toga”. E se as suspeitas sobre interferências externas se confirmarem, Fux poderá ser lembrado não como ministro, mas como o homem que preservou o chefe da casa enquanto punia o mordomo — e pagará o preço histórico por isso.

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