Por Sofia Andrade
O Brasil se aproxima de uma das eleições mais complexas de sua história recente. O pleito de 2026 será definido por três forças principais: a tentativa do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de consolidar seu legado, a reorganização da direita pós-Bolsonaro e o fortalecimento do Centrão como árbitro inevitável do poder.
Lula e o Legado em Jogo
Lula confirmou que disputará a reeleição. Aos 80 anos, aposta no capital político acumulado em três mandatos e no apoio internacional para reforçar a imagem de estadista. Seu governo apresenta avanços em políticas sociais e mantém relativa estabilidade econômica, mas enfrenta limites claros: desaceleração do crescimento, desgaste de alianças no Congresso e o peso da idade.
Mesmo aliados reconhecem que a saúde do presidente será fator determinante. Até o momento, o PT não definiu um sucessor natural capaz de manter a força eleitoral de Lula. Nomes como Fernando Haddad, Rui Costa e Gleisi Hoffmann surgem como alternativas, mas sem densidade de votos suficiente para rivalizar com o presidente.
A Direita Fragmentada e o Legado de Bolsonaro
A direita brasileira permanece fragmentada. Jair Bolsonaro, inelegível até 2030, continua atuando como liderança simbólica e mobiliza parcelas do eleitorado conservador com retórica de perseguição judicial.
No entanto, a corrida presidencial já envolve sua sucessão política. O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), desponta como o candidato mais viável dentro do campo bolsonarista. Seu perfil técnico e postura menos beligerante lhe garantem espaço tanto no mercado quanto junto a eleitores que rejeitam o extremismo ideológico.
Outros nomes, como Michelle Bolsonaro, Romeu Zema e Ratinho Junior, ainda buscam consolidar relevância, mas até agora não conseguiram rivalizar com a força do núcleo bolsonarista. O grande desafio da direita será decidir entre manter Bolsonaro como líder simbólico ou consolidar uma nova identidade eleitoral.
O Centrão: Poder Paralelo
Em 2026, o Centrão pode se tornar protagonista. As eleições municipais de 2024 reforçaram o domínio do bloco em capitais e cidades estratégicas, consolidando uma rede de prefeitos e vereadores que funcionará como alicerce decisivo para qualquer candidatura presidencial.
A força do Centrão vai além do apoio formal. O bloco controla tempo de TV, financiamento de campanhas e palanques regionais, podendo determinar o sucesso ou fracasso de candidatos, tanto à direita quanto à esquerda.
Cenário Eleitoral: Pesquisas e Desafios
Levantamentos do Instituto Quaest indicam que Lula lidera no primeiro turno, principalmente contra candidatos fragmentados da direita. Em simulações contra Tarcísio de Freitas, o cenário se mostra de empate técnico no segundo turno.
A rejeição a Bolsonaro permanece alta, mas ele mantém cerca de 25% da base leal. O dado mais relevante é o crescimento de eleitores indecisos e daqueles que buscam "um nome novo", fora da polarização histórica.
O Risco da Fadiga Democrática
Mais do que disputa eleitoral, 2026 será um teste de resistência institucional. O país chega ao pleito com cicatrizes profundas: os atos de 8 de janeiro de 2023, a judicialização da política e a instabilidade entre os Poderes deixaram marcas duradouras.
Enquanto Lula busca continuidade institucional, Bolsonaro ainda representa risco de ruptura simbólica. E o Centrão surge como força paralela, capaz de sustentar ou inviabilizar governos, independentemente do eleito.
Conclusão: Três Perguntas para 2026
As eleições de 2026 não se resumem a Lula versus Bolsonaro. O Brasil terá de decidir entre:
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Lula terá fôlego físico e político para sustentar uma reeleição?
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O bolsonarismo sobreviverá sem Bolsonaro na urna?
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O Centrão será apenas aliado ou verdadeiro protagonista da política brasileira?
As respostas começarão a se desenhar já em 2026, em uma eleição que promete ser divisor de águas para a democracia brasileira.

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