(Foto: Reprodução YouTube/)Por José Nassif
O Brasil vive um momento crítico em sua história política. A extrema-direita, que por anos celebrou a morte de familiares do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva — de Marisa Letícia ao neto Arthur Araújo — agora se apresenta como guardiã da moralidade, da ética e dos direitos humanos. Moralidade seletiva, conveniência absoluta: a mesma direita que zombou do luto alheio agora se veste de defensora da decência.
O histórico de ódio explícito de Jair Bolsonaro é documentado e chocante. Em 2018, durante comício no Acre, declarou:
“Vamos fuzilar a petralhada aqui do Acre. Vou botar esses picaretas para correr do Acre. Já que gosta tanto da Venezuela, essa turma tem que ir para lá.”
No mesmo ano, reforçou seu tom de perseguição política:
“Essa turma, se quiser ficar aqui, vai ter que se colocar sob a lei de todos nós. Ou vão para fora ou vão para a cadeia. Esses marginais vermelhos serão banidos de nossa pátria.”
Em outras ocasiões, Bolsonaro dirigiu-se de forma abjeta à deputada Maria do Rosário (PT-RS), afirmando:
“Eu jamais ia estuprar você porque você não merece.” (2003 e 2014)
E reforçou sua narrativa de guerra ideológica:
“Temos pela frente uma luta do bem contra o mal, mal que perdurou por 14 anos no nosso país, que quase quebrou nossa pátria e que agora deseja voltar à cena do crime. Não voltarão.”
Carla Zambelli acrescentou seu moralismo seletivo:
“Injustificável é um presidiário vagabundo usar o enterro da esposa, do irmão, do neto e até a morte da cachorrinha para fazer discurso político e tentar escapar da cadeia.”
Nicolas Ferreira completou a narrativa de desprezo da extrema-direita pelo povo:
“A resposta é simples. Eles não defendem os pobres, nem oriundos de aglomerados, mas militantes que não pensam por conta própria e que apoiam suas causas.”
O cinismo é total. Celebrar a morte de familiares, ridicularizar luto e transformar tragédias humanas em arma política não é apenas desumano: é um padrão histórico de perseguição ideológica. Essa retórica lembra, sem exagero, os discursos de ódio que pavimentaram os regimes totalitários do século XX — quando líderes transformavam cidadãos em inimigos absolutos, justificando violência, prisões e morte. O moralismo seletivo de hoje ecoa a Inquisição e os ataques sistemáticos de Hitler aos judeus: o adversário político é desumanizado, e a dor se torna moeda de manipulação.
O caso internacional do deputado americano Charlie Kirk é exemplar: Donald Trump acusou a esquerda do ataque, e extremistas brasileiros rapidamente utilizaram a tragédia para perseguir a esquerda local. Lamenta-se a morte de Kirk, mas apenas para transformar o episódio em ferramenta de ódio ideológico. É o mesmo padrão: usar a dor humana como instrumento político, enquanto se silencia ou ridiculariza tragédias brasileiras, como as mortes de Marisa Letícia, Arthur Araújo e Marcelo Arruda.
O Brasil precisa resistir. A democracia exige coerência, empatia e respeito à vida — não cinismo, ódio e moralidade seletiva. Até que isso seja compreendido, continuaremos presos em um ciclo de violência simbólica, instrumentalização da dor e hipocrisia política, onde a humanidade é sempre a primeira vítima.
A hora é de denúncia, de resistência e de memória histórica. Não podemos permitir que o moralismo seletivo da extrema-direita transforme o país em palco de ódio, vingança e perseguição, repetindo padrões sombrios que o mundo jurou nunca mais reviver.

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