Por Lana Monteiro
Belém, capital do Pará, será em 2025 o epicentro da maior discussão global sobre o futuro do planeta. A Amazônia, tantas vezes tratada como paisagem distante nos relatórios da ONU, vai virar palco e protagonista da COP30. E o Brasil, sob a liderança de Lula, aposta alto: não quer apenas organizar o evento, mas assumir o papel de maestro da orquestra climática mundial.
A proposta brasileira é clara e ousada. Criar um sistema global de precificação de carbono, onde quem polui paga. E, de quebra, estabelecer um fundo bilionário de conservação florestal, financiado por países ricos, para que a Amazônia continue de pé.
Em bom português: o Brasil quer transformar árvores em ativo político e colocar etiqueta de preço no ar que todos respiram.
De vilão a protagonista
Não faz tanto tempo que o Brasil ocupava manchetes internacionais como vilão ambiental. Imagens de queimadas na Amazônia, satélites registrando recordes de desmatamento e relatórios alertando sobre a destruição acelerada do Pantanal. O país era acusado de negligência, quando não de cumplicidade.
Agora, o governo tenta virar o jogo. A narrativa mudou: de “problema” para “solução”. O país que devastava se apresenta como guardião. É uma guinada estratégica: o meio ambiente deixou de ser apenas questão ecológica para se tornar um trunfo diplomático.
O jogo de poder global
As propostas brasileiras soam sedutoras, mas a recepção no exterior será menos romântica. Os países ricos têm histórico de prometer apoio financeiro e entregar muito menos do que anunciam. O chamado Fundo Verde para o Clima, criado em 2009, nunca atingiu a meta inicial.
Mesmo assim, o Brasil aposta na força simbólica da Amazônia. Trata-se de uma narrativa quase imbatível: preservar a maior floresta tropical do planeta é preservar o futuro da humanidade. E Lula sabe jogar com esse capital moral.
Se conseguir emplacar um mecanismo global de carbono, o Brasil passa de figurante a protagonista na mesa de negociação. Será lembrado não como aluno, mas como professor de diplomacia verde.
O desafio interno
Mas há um detalhe que não pode ser varrido para debaixo do tapete: o Brasil real. Enquanto no exterior o país se apresenta como líder climático, dentro de casa enfrenta velhos fantasmas.
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Garimpo ilegal ainda invade terras indígenas.
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Grilagem e desmatamento clandestino corroem a floresta.
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Comunidades ribeirinhas e povos originários seguem à margem, ameaçados pela violência.
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Órgãos de fiscalização sofrem com orçamentos apertados e falta de pessoal.
Para que o discurso internacional tenha peso, será preciso mostrar resultados práticos no território. Caso contrário, a ambiciosa diplomacia climática de Lula corre o risco de ser vista apenas como retórica.
O peso simbólico de Belém
Escolher Belém como sede não foi casual. É um gesto carregado de simbolismo. Em vez de hotéis envidraçados de grandes capitais, líderes mundiais estarão no coração da floresta, convivendo com o calor úmido, o som dos rios e a realidade da região.
Será impossível ignorar o contraste entre o discurso global e a vida cotidiana da Amazônia. A COP30, nesse sentido, não será apenas um encontro diplomático: será um ato político e cultural, uma vitrine do que está em jogo.
Comparações internacionais
Enquanto o Brasil se prepara para a COP30, outros países também disputam espaço na diplomacia climática:
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A União Europeia avança em regulações ambientais, mas enfrenta críticas por impor barreiras verdes a produtos de países em desenvolvimento.
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Os EUA anunciam metas ambiciosas, mas tropeçam em disputas políticas internas que atrasam sua implementação.
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A China, maior emissor de gases de efeito estufa, tenta equilibrar crescimento econômico e compromissos ambientais, investindo pesado em energia renovável — mas sem abrir mão do carvão.
O Brasil, portanto, enxerga uma oportunidade: ocupar o vácuo de liderança e se posicionar como mediador entre o Norte rico e o Sul em desenvolvimento.
Conclusão: a aposta de Belém
A diplomacia climática de Lula é arriscada porque exige mais do que discurso. Mas é justamente essa ambição que pode transformá-la em marco. Belém será palco de um duelo entre promessas e cobranças, entre pragmatismo e esperança.
Se o Brasil conseguir equilibrar sua realidade interna com suas aspirações globais, poderá sair da COP30 não apenas como anfitrião, mas como símbolo. Um país que decidiu transformar floresta em poder político e que, por uma vez, escolheu o caminho da liderança.
No fim, Belém não será apenas cidade. Será metáfora: de como um país em crise constante tenta se reinventar como guardião do futuro.

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