Por Lara Monteiro
O feriado da Independência de 7 de setembro ganhou um novo capítulo de diplomacia: o governo brasileiro reafirmou sua neutralidade diante da escalada de tensões entre Estados Unidos e Venezuela. A posição, defendida pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, coloca o Brasil como mediador potencial na América Latina, mas abre espaço para fortes críticas de opositores no Congresso, que veem a escolha como sinal de omissão.
Neutralidade como estratégia
Segundo o Palácio do Planalto, a linha adotada é clara: o Brasil não vai se alinhar automaticamente a nenhuma das partes. Lula e sua equipe reiteram que a prioridade é preservar a paz e a soberania regional, evitando qualquer postura que possa aprofundar a crise diplomática.
Nos bastidores, o Itamaraty avalia que se posicionar como ator neutro pode ampliar a legitimidade brasileira em eventuais mesas de negociação, reforçando a imagem do país como mediador confiável. Trata-se de um retorno à tradição diplomática do Brasil, conhecida pela busca de equilíbrio e pela valorização do multilateralismo.
As críticas da oposição
A neutralidade, no entanto, não passou despercebida. Parlamentares da oposição acusam o governo de “lavar as mãos” diante de um conflito que afeta diretamente a América do Sul.
Segundo líderes críticos, a postura brasileira demonstra “frieza excessiva” e falta de firmeza em defender a democracia na região. O argumento é de que o Brasil, por seu peso econômico e político, não poderia se limitar a um papel observador, correndo o risco de perder protagonismo.
Um senador da oposição chegou a declarar que “neutralidade em tempos de crise é escolher não escolher — e isso pode custar caro”.
O peso da geopolítica
A crise entre EUA e Venezuela envolve não apenas disputas ideológicas, mas também interesses econômicos ligados ao petróleo, energia e influência política sobre a América Latina.
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Para os Estados Unidos, manter pressão sobre Caracas significa reafirmar sua hegemonia no continente.
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Para a Venezuela, contar com apoio de parceiros como Rússia, China e Irã é uma forma de resistir ao isolamento.
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Para o Brasil, alinhar-se diretamente a qualquer um dos lados significaria assumir riscos diplomáticos que poderiam comprometer tanto relações comerciais quanto a estabilidade regional.
Lula, portanto, aposta em um equilíbrio delicado: não afastar Washington, mas também não romper a histórica relação de proximidade com Caracas.
O dilema brasileiro
A neutralidade brasileira levanta uma questão central: trata-se de prudência diplomática ou omissão política?
De um lado, há quem veja na postura de Lula uma jogada de longo prazo — capaz de fortalecer a imagem do Brasil como voz do diálogo em um continente marcado por polarizações. De outro, críticos apontam que a ausência de posicionamento firme pode abrir espaço para que outros países, como México ou Colômbia, assumam a dianteira na condução da crise regional.
Conclusão
O 7 de Setembro de 2025 mostrou que a política externa brasileira continua sendo palco de disputas internas. A neutralidade diante da crise EUA–Venezuela, defendida pelo governo, carrega tanto a tradição do Itamaraty quanto a ousadia de tentar mediar conflitos.
Mas, dentro do país, a estratégia já alimenta narrativas da oposição: será que a neutralidade fortalece a soberania brasileira ou revela uma falta de liderança na América Latina?
O debate está aberto — e promete se intensificar conforme a crise internacional avança.

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