Foto: Lula Marques/Agência Brasil
Por José Nassif
Jair Bolsonaro não foi condenado apenas por arquitetar um golpe de Estado. Ele foi condenado por uma trajetória de ódio, ignorância e desprezo pela vida. O Supremo lhe deu 27 anos e 3 meses, mas a História já havia carimbado sua sentença muito antes.
Durante a pandemia, enquanto famílias enterravam seus mortos, Bolsonaro debochava:
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“E daí? Não sou coveiro, tá ok?”
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“Todo mundo vai morrer um dia.”
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“Para de frescura.”
Enquanto o vírus avançava, ele recomendava cloroquina, atrasava vacinas e transformava a morte em palanque. O resultado: centenas de milhares de brasileiros mortos que poderiam ter sido salvos. Essa é a condenação invisível, a que não cabe na toga, mas ecoa nos cemitérios.
Não bastasse o genocídio sanitário, Bolsonaro deixou sua marca de ódio em cada minoria:
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Sobre negros: “Não entrou nem pra procriador.”
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Sobre indígenas: “O índio está evoluindo, cada vez mais é um ser humano igual a nós.”
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Sobre mulheres: “Ela não merece ser estuprada, porque é muito feia.”
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Sobre homossexuais: “Prefiro meu filho morto a vê-lo com um bigodudo por aí.”
Esse é o retrato: um presidente que governou contra seu próprio povo.
E foi diante desse abismo que o Supremo Tribunal Federal segurou a democracia no fio da navalha. Cármen Lúcia votou com firmeza histórica, reafirmando que o Estado de Direito não é negociável. Alexandre de Moraes, com sua truculência jurídica, virou muralha contra o autoritarismo. Flávio Dino, com lucidez, enquadrou a tentativa de golpe como crime contra a pátria. Gilmar Mendes, Fachin, Barroso – cada voto foi tijolo na barreira que impediu a volta da ditadura.
No Executivo, Lula simboliza a resistência de décadas: da prisão política ao Planalto, sustentando agora a soberania nacional contra pressões externas. No Legislativo, deputados de esquerda ergueram barricadas contra o obscurantismo, defendendo a democracia com unhas, dentes e microfones.
A condenação de Bolsonaro e sua quadrilha é mais que uma sentença jurídica: é a redenção do Brasil diante do golpe de 64. É a resposta tardia às baionetas que derrubaram Goulart e abriram 21 anos de trevas. Hoje, o país diz em alto e bom som: golpista não passará. Golpista vai em cana. Seja militar ou civil.
E pensar que um certo Nicolas Ferreira jurou que a prisão de Bolsonaro “iria parar o Brasil”. Parou, sim. Mas não no medo. Parou no riso, nos fogos, nas lágrimas de alívio de quem sobreviveu à pandemia e à violência política.
O capitão caiu. E com ele, cai também a velha arrogância dos generais de pijama e dos aprendizes de ditador. O Brasil respira. A democracia, ferida, comemora.
E como o próprio Bolsonaro disse, em tom de bravata que virou profecia:
“A Papuda lhe espera. Boa estadia lá, valeu? Um forte abraço.”

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