Foto: José Cruz/Agência Brasil
Por José Nassif
O Brasil é o único país onde o crime não precisa bater à porta: ele já tem lugar cativo no salão nobre do poder. A recente operação contra o Primeiro Comando da Capital (PCC) revelou uma teia de negócios bilionários, lavagem de dinheiro e infiltração em empresas formais. Mas o que assusta não é apenas a audácia do crime; é o silêncio cúmplice de setores políticos que deveriam proteger a República. Bem-vindos ao espetáculo da democracia em corda bamba.
Entre fake news e interesses escusos
Em janeiro de 2025, o deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG) espalhou uma fake news sobre a suposta taxação do Pix. Um episódio que, à primeira vista, poderia parecer trivial, mas que acabou criando terreno fértil para o PCC movimentar recursos ilícitos com mais facilidade. É a prova cristalina de como mentira, política e crime podem dançar juntos — e o país paga o ingresso para assistir.
Quando o crime chega ao poder
O histórico do Brasil mostra que a penetração do crime organizado na política não é novidade. Políticos ligados a milícias no Rio de Janeiro, vereadores e ex-prefeitos incluídos, usaram da máquina pública como escudo para quadrilhas. O mesmo vale para aqueles com ligações ao Comando Vermelho: atores políticos informais, manipulando votos e decisões como se fossem peças em tabuleiro de xadrez.
O PCC, assim como as milícias cariocas, encontrou na política uma rota de expansão silenciosa: lavagem de dinheiro, consolidação de poder e influência disfarçada de governança. Quando essas figuras chegam a cargos de relevância, a corrupção deixa de ser prática antiga e vira instrumento estruturado de criminalidade institucionalizada.
Blindagem, impunidade e ameaça à democracia
O governo federal critica episódios isolados em entrevistas e declarações oficiais. Mas falta ação firme. A omissão constrói uma blindagem que ameaça corroer a democracia, legitimando o crime como ator político. Aqui, o Estado não é vítima; ele se torna ferramenta de quem busca perpetuar atividades criminosas.
A Operação Carbono Oculto, deflagrada em agosto de 2025, foi um passo importante: mais de 1.400 agentes desmantelaram mil postos de combustíveis e 40 fundos de investimento controlados pelo crime. Mas o que impressiona é que o PCC não atua apenas nas sombras; ele se aproveita da política, da comunicação e da economia formal, dançando à luz do dia.
Reflexão final
O episódio envolvendo o PL e a fake news do Pix não é apenas um escândalo isolado. Ele revela a ameaça estrutural que a infiltração de facções criminosas, milícias e corrupção organizada impõe ao Brasil. Não é apenas questão eleitoral: é risco ao Estado de Direito, à democracia e à segurança de milhões de cidadãos.
Enquanto não houver responsabilização real, investigação profunda e medidas que impeçam o crime de usar a política como ferramenta, o país continuará a assistir à construção de uma ponte sombria, onde o poder público se confunde com o crime — e o preço é pago, como sempre, por quem menos tem.

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