Foto Lula Marques/ Agência Brasil
Por José Nassif
Kim Kataguiri, deputado federal pelo União Brasil, não é apenas um político; é um show completo. Se existisse um Grammy para malabaristas ideológicos, ele teria todos os troféus e ainda faria discurso de agradecimento no palco. Ontem, defensor absoluto da liberdade de expressão — até para nazistas; hoje, xerife moral da internet, propondo leis que criminalizam discursos extremistas. Entre uma posição e outra, o eleitor só pode rir ou se perguntar: “Será que ele está falando sério ou é performance?”
Em fevereiro de 2022, Kataguiri se notabilizou no Flow Podcast com a frase que fez qualquer historiador profissional revirar os olhos: a Alemanha teria errado ao criminalizar o nazismo. “Liberdade de expressão até para absurdos”, dizia ele, com a confiança de quem ensina filosofia para crianças que só querem memes. O resultado foi previsível: pedidos de cassação, críticas de parlamentares, investigação da PGR. Kataguiri entrava assim para a galeria dos políticos que conseguem transformar uma frase em um pequeno terremoto ético.
Surpresa: em setembro de 2025, o mesmo Kataguiri apresenta um projeto de lei para criminalizar discursos extremistas — de nazismo e fascismo a socialismo e comunismo — com penas que podem chegar a 16 anos se o discurso for feito na internet. O mesmo político que antes parecia a favor do caos discursivo agora se apresenta como xerife moral, lembrando que liberdade, no cardápio dele, é “à la carte”. Escolha seu prato, mas veja se ele aprova o tempero.
O paradoxo é delicioso: liberdade de expressão, desde que selecionada por ele. Kataguiri tornou-se um maître ideológico, que define quais discursos podem ser servidos e quais devem ser jogados fora. Entre incoerência e conveniência, ele navega como um maestro, sabendo que o eleitorado brasileiro adora espetáculo, mas se assusta com substância.
Se quisermos recorrer à ironia de Juremir Machado, Kataguiri é quase um personagem de novela de humor negro: muda de lado com a facilidade de quem troca de camisa, mas sempre garante manchetes, cliques e debates inflamados. É o trapezista do circo político, sem rede de proteção, mas com ego inflado o suficiente para não se preocupar com quedas imaginárias.
E não é só ele. Setores da direita, percebendo que discursos radicais afastam eleitores moderados, se distanciam com passos calculados. Mas Kataguiri sabe que a fama de polêmico rende mais que coerência. Ele dança sobre a corda bamba do pragmatismo, com um sorriso quase cômico de quem diz: “Eu posso tudo, desde que o público aplauda”.
Mas o show não para aí. Quem acompanha a carreira dele percebe um padrão: cada fala é um ato teatral, cada projeto de lei uma cena ensaiada, cada entrevista, uma tentativa de surpreender o público. Ele é estrela, roteirista e diretor do próprio circo — e, ao que tudo indica, não pretende dividir o palco com ninguém. Entre liberdade e censura, entre princípios e conveniência, Kataguiri ensina algo sobre a política brasileira: coerência é luxo; espetáculo é obrigação.
E o leitor? Ele é a plateia cativa, oscilando entre indignação, gargalhada contida e fascínio. Porque, neste país, política virou entretenimento, e o político que melhor performa a hipocrisia é rei. Kataguiri domina a arte de transformar contradição em aplausos, absurdos em manchetes e incoerência em espetáculo.
Podemos até imaginar: no próximo ato, ele estará novamente mudando de lado, talvez defendendo a liberdade irrestrita de expressão de… extraterrestres? Quem sabe. No circo da política brasileira, a plateia assiste, às vezes atônita, às vezes rindo de nervoso, e o show continua. E Kim Kataguiri? Ele garante que as luzes fiquem acesas sobre si mesmo, mesmo que a trama inteira seja, no fundo, uma grande piada de mau gosto — irresistivelmente política.

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