Congresso Inimigo do Povo — o circo, o espetáculo, a farsa

 





© Paulo Pinto/Agência Brasil

Por José Nassif

O Brasil amanheceu hoje com cheiro de pólvora democrática — ou talvez fosse só pomada para dor de cabeça, porque protestar nesse país virou remédio tarja preta. As ruas das capitais se encheram de gente comum, estudantes, artistas, trabalhadores e até alguns sobreviventes de boletos atrasados, todos gritando a mesma coisa: chega de blindagem, chega de anistia, chega desse Congresso que parece mais interessado em salvar a própria pele do que em servir ao país.

Enquanto isso, lá no panteão da comédia involuntária, o bolsonarismo segue tentando empurrar goela abaixo a ideia de que crime contra a democracia é apenas um mal-entendido. Golpe? Ah, era só “manifestação pacífica”. Quebrar o STF, invadir Planalto, botar fogo na Constituição? Coisas de “turistas patrióticos”. A extrema direita é uma piada sem punchline: faz barulho, ameaça, sabota e depois pede desculpa com a cara mais lavada — ou melhor, pede anistia.

O Centrão, por sua vez, continua sendo o carneiro que se vende por qualquer trem que passe. Passa pano para Bolsonaro ontem, para Lula hoje, para quem oferecer amanhã. É a verdadeira seita do “meu preço é negociável”. Se você perguntar a um deputado do Centrão qual é a ideologia dele, a resposta vem em parcelas: emenda, cargo, verba. A cada rodada de negociações, mais distante da democracia, mais perto do caixa.

E aí entra a tal da PEC da Blindagem. Traduzindo do juridiquês: deputados e senadores só seriam processados com autorização da própria Casa. Ou seja, bandido julga bandido. É como se uma gangue fosse pega em flagrante e pedisse para ela mesma decidir se deve ou não ser presa. Para completar o pacote, a proposta ainda estende foro privilegiado a presidentes de partidos. É o manual da máfia adaptado para Brasília: impunidade institucionalizada.

Mas não bastasse isso, o Congresso ainda resolveu ensaiar o show da anistia. O tal projeto de lei quer perdoar quem foi condenado pelos atos de 8 de janeiro — aquele dia histórico em que os “cidadãos de bem” mostraram ao mundo como se destrói patrimônio público em 4K. Querem apagar da ficha como se fosse infração de trânsito: “Ah, invade aí os Três Poderes, mas não esquece de pagar a multa do farol vermelho”.

E o povo, cansado desse teatro de horrores, foi para as ruas. Não para defender partido, não para bajular governo, mas para gritar algo óbvio: democracia sem consequência não é democracia, é piada. E piada de mau gosto. A frase estampada nos cartazes — “Congresso inimigo do povo” — não é exagero. É diagnóstico.

O recado das ruas é claro: quem destrói instituições deve ser punido. Quem tenta se blindar contra a lei deve ser barrado. Quem acha que mandato é capa de invisibilidade merece ser desmascarado. Mas parece que nossos parlamentares vivem num universo paralelo, onde a democracia existe para protegê-los, e não para protegê-la.

Se o Congresso insistir nessa autofagia institucional, se continuar de braços dados com a blindagem e com a anistia, ele não será apenas cúmplice: será coveiro da própria democracia. E nós, cidadãos, que já vivemos na corda bamba entre o autoritarismo de ontem e a omissão de hoje, veremos a República se transformar numa grande piada sem riso.

O problema é que o Brasil já não tem mais tempo para rir.

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